Sacolinha plástica são vítimas do próprio sucesso

Desenvolvidas no final dos anos 1950, as sacolinhas plásticas se espalharam rapidamente por todo o mundo. Uma das invenções mais práticas do nosso tempo, elas se tornaram vítimas do próprio sucesso.

Nos primeiros anos deste século, com uma produção mun­dial que beira um trilhão de unidades por ano (estimativa da Environmental Pro­tec­tion Agency, dos Estados Unidos), as sacolinhas de po­lie­ti­le­no são encontradas em qualquer canto da natureza, nos mares e em terra.

Descartadas sem o devido cuidado, são apontadas como vilãs do meio am­bien­te. Em 2002, a Irlanda foi um dos paí­ses pioneiros, e ainda um dos poucos, a promover a redução do uso das sacolinhas com a cria­ção do imposto de 22 centavos de euro por unidade. A queda do seu uso foi de 97,5%.

O valor recolhido com a venda de sacolas alternativas, como as de papel e de outros materiais, é destinado a um fundo que promove a reciclagem de lixo e ini­cia­ti­vas ambientais.

Em 2010, a capital americana, Washington, passou a cobrar uma taxa de 5 centavos de dólar sobre cada sacola utilizada, e em apenas um mês foi registrada uma queda de 85% no uso.

O montante arrecadado com a venda vai para um projeto de despoluição do rio Anacostia. Já na Califórnia, em agosto de 2010, os legisladores rejeitaram um projeto de lei que proibia o uso de sacolas plásticas em todo o estado.

 
Sacolinha plástica são vítimas do próprio sucesso

Em São Paulo, o caminho escolhido foi diferente. Poder público e comércio decidiram banir as sacolas de plástico, envolvendo a cidade numa batalha ju­di­cial. Em 18 de maio de 2011, o prefeito Gilberto Kassab sancionou a lei 15.374 para eliminar o uso de sacolas de plástico — não só as de supermercado — de todo comércio até o final daquele ano.

Em 29 de junho, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu, em caráter liminar, a eficácia da lei a pedido do Sindicato da Indústria de Ma­te­rial Plástico do Estado de São Paulo. Em 16 de novembro, decidiu manter a suspensão da lei.

Mesmo assim, no dia 25 de janeiro deste ano os supermercados da capital paulista deixaram de fornecer as sacolinhas. Os consumidores ficaram com a opção de pagar R$ 0,19 por uma sacola de plástico bio­de­gra­dá­vel, comprar uma reutilizável por R$ 1,99 ou usar caixas de papelão. A campanha é liderada pela Apas (As­so­cia­ção dos Supermercados Paulistas), que em maio de 2011 firmou protocolo de intenções com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para banir do Estado o uso das sacolas plásticas.

Como houve uma intranquilidade dos consumidores nos supermercados, no dia 3 de fevereiro deste ano, por ini­cia­ti­va do Ministério Público do Estado de São Paulo e do Procon SP, foi assinado um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Apas para que as sacolinhas voltassem a ser dis­tri­buí­das durante 60 dias.

Ficou proibido ter sacolinhas plásticas pagas, as chamadas biodegradáveis, e os supermercados devem disponibilizar, durante seis meses, sacolas retornáveis de 5 cm × 40 cm × 40 cm por no máximo R$ 0,59. Se não tiverem, devem fornecer outra pelo mesmo valor com qualidade e tamanhos su­pe­rio­res.


No dia 3 de abril, quando terminou o prazo para os consumidores e as redes de supermercado de São Paulo se adaptarem ao acordo, o consumidor con­ti­nua­va dividido. Parte das pes­soas entrevistadas pelos veí­cu­los de comunicação se mostrava indignada com a decisão, enquanto outras apoiavam o fim das sacolinhas.

A polêmica
João Sanzolo, diretor de sustentabilidade da Apas, conta que a campanha denominada “Vamos tirar o planeta do sufoco” foi inspirada numa outra, lançada pela prefeitura de São Paulo em agosto de 2007, para que os paulistanos reduzissem o uso de sacolas plásticas. “A ideia era que o consumidor fosse às compras munido de sua própria sacola, de pano, de lona ou de ma­te­rial reciclável”, explica. “Os supermercados estão refletindo uma demanda da so­cie­da­de, cada vez mais atenta às questões ambientais”.

Nessa briga de gigantes — as redes de supermercados e a indústria do plástico —, o consumidor e o ecomar­ke­ting parecem entrar apenas como coad­ju­van­tes. “As sacolinhas plásticas têm sido penalizadas er­ro­nea­men­te”, afirma Alfredo Schmitt, presidente da As­so­cia­ção Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (­Abief).

Para ele, “estão tentando fazer a maior transferência de renda de um setor da economia para outro, sem que se ofereça nada em troca. Os consumidores pagam a conta e os supermercados vão ficar com os R$ 220 mi­lhões que gastam por ano nas sacolinhas plásticas”.

A Apas diz estar alinhada com a Política Na­cio­nal de Re­sí­duos Sólidos (PNRS), assinada pelo presidente Lula em 2010, que obriga a so­cie­da­de brasileira a rever seus conceitos sobre a questão do lixo.

Mas esclarece que “não houve uma proibição, e sim uma campanha que propõe a substituição das sacolas descartáveis pelas reutilizáveis”. Para Sanzolo, “o foco da ação está no fim da cultura do descarte, e não na ‘demonização’ do plástico, que sem dúvida tem dado grande contribuição à vida moderna”.

Sacolinhas Plásticas Lixo

De qualquer forma, a disputa está nas ruas e são muitos embates. Além do TAC, no dia 9 de março o Conselho Na­cio­nal de Autorregulamentação Publicitária (Conar) anunciou sua condenação à campanha da Apas. E apontou algumas das principais questões da polêmica, ao considerar incorreta a afirmação de que a sacolinha plástica é descartável, uma vez que já foi comprovado seu reúso.


Uma pesquisa Datafolha de maio de 2011, que aponta preferência de 84% dos consumidores pelas sacolas plásticas, mostra que 88% dos usuá­rios de sacolas plásticas costumam reutilizar essas embalagens, 7% descartam as sacolas e 6% dizem que mandam para reciclagem.

Em questão que permitia múltiplas escolhas, os entrevistados que reutilizam as sacolas indicaram como finalidade do reúso o acon­di­cio­na­men­to de lixo (96%), o recolhimento de sujeira de animais (51%), a utilização para transportar outros objetos (66%), o uso para separar o lixo a ser levado para reciclagem (39%), para armazenar mantimentos (26%), guardar roupas (17%) ou a utilização como matéria-​­prima para con­fec­cio­nar outros produtos (4%).

O Conar também não aceitou como correta a informação de que, ao banir a sacolinha, o problema do meio am­bien­te estaria resolvido. Há pesquisas que indicam o contrário.

Estudos
Um estudo da Agência Am­bien­tal da Inglaterra, divulgado no primeiro semestre de 2011, indicou que as sacolinhas plásticas de supermercado causam menos danos ambientais que outros modelos, quando a comparação leva em conta o uso da sacola uma única vez.

A pesquisa explica que sacolas de papel, plástico resistente (polipropileno) e algodão consomem mais matéria-​­prima e energia para sua fabricação.

Por isso, te­riam que ser reutilizadas 3, 11 ou 131 vezes, respectivamente, para causar menos danos ambientais que uma sacola plástica usada apenas uma vez. Os pesquisadores Chris Ed­wards e Jonna Meyhoff Fry acompanharam o ciclo de vida (extração da matéria-​­prima, manufatura, distribuição, uso, reú­so e descarte) de cada modelo.

Em cada uma das etapas do ciclo de vida, foi contabilizada a quantidade de gases causadores do efeito estufa emitidos pelo consumo de energia na fabricação e no transporte das mer­ca­do­rias, além dos des­per­dí­cios de materiais durante o processo.

Resultado: uma sacola plástica comum emite 1,5 kg de gás carbônico e outros gases que con­tri­buem para o aquecimento global. O dado já considera que 40% desse tipo de sacola é reutilizado com frequência para acon­di­cio­nar o lixo em casa.

Já o ciclo de vida das outras sacolas tem um impacto bem maior: papel (5,53 kg), plástico resistente (21,5 kg) e algodão (271,5 kg). Isso é o que explica a necessidade de tantos reú­sos para neutralizar a fabricação desses modelos, de acordo com a pesquisa.
Enquanto a polêmica continua, os consumidores vão fazendo suas opções e se adaptando a novas formas de transportar suas compras. O grande prejuí­zo fica com a indústria brasileira.

Muitos em­pre­sá­rios estão de­so­rien­ta­dos, sem saber o que fazer com suas máquinas e seus empregados. Procurados para falar sobre a si­tua­ção, alguns evitaram dar declarações, embora tenham comentado que “a si­tua­ção está muito ruim”.

A indústria
Airo Campera, sócio pro­prie­tá­rio da ABC Embalagens, desabafou: “A si­tua­ção está terrível. Já demiti 15 fun­cio­ná­rios e tive uma queda de 70% na demanda só no mês de fevereiro”, conta ele, que fundou a empresa em São Bernardo do Campo (SP) há 41 anos. “Dá dor no coração demitir funcioná­rio que está com você há 10, 15, 20 anos”.

Sua empresa processava de 60 a 70 toneladas/mês e, em fevereiro, a produção caiu para 7 toneladas. “Já fui ver uma máquina para produzir a sacola reutilizável. Custa 300 mil reais”, diz ele. “Como não sei o que vai acontecer, vou aguardar”.

Gisele Barbin, gerente co­mer­cial da Extrusa-​­Pack, uma importante fabricante de sacolinhas plásticas instalada em São Paulo, disse que a si­tua­ção ainda está indefinida. “É difícil opinar sobre o projeto dos supermercados”, diz ela. “É um item pro­mo­cio­nal deles”. Barbin conta que, para enfrentar a proibição de sacolinhas plásticas, a empresa iniciou a produção das sacolas biodegradáveis, depois proibidas pelo TAC, e também sacolas retornáveis, utilizando os mesmos equipamentos.

Ela prefere não revelar o per­cen­tual de queda na demanda das sacolinhas plásticas e não dá detalhes da unidade montada só para fazer sacolas retornáveis.

Já a CBS Elos do Brasil, empresa com capacidade de 2.300 toneladas/mês com unidades fabris em São Paulo e no Rio de Janeiro, produziu alguns lotes de sacolas retornáveis e desistiu. “Não tenho preço para competir com as sacolas importadas da China, Viet­nã e Malásia. Não posso fazer um lote de 10 mil, o mínimo para meu equipamento é 30 mil”, comenta Eduar­do Diez, diretor da CBS Elos.

“A China aceita o pedido de 10 mil a um preço mais barato que o meu e num prazo mais curto. Chega aqui em uma semana”. A CBS tem uma gama muito grande de produtos, a maior parte em plástico, embora também fabrique em papel. “Não coloquei todos os ovos numa única cesta.

Não dependo de um produto e de um clien­te”, explica Diez, que analisa a si­tua­ção das empresas dian­te da proibição das sacolinhas de plástico: “Muitas pararam e precisam se reinventar. O mercado está com oferta maior do que a demanda. É preciso ‘roubar’ o clien­te e o único argumento é o preço”.


O aumento da concorrência também foi constatado pela CRP Plásticos, com capacidade para 600 toneladas/mês. “As in­dús­trias estão se redirecionando para outros nichos”, constata Carlos Hugo, gerente in­dus­trial da empresa, que trabalha com extrusão de filmes e não atua diretamente com as sacolinhas de plástico. “Mesmo assim, estamos sendo afetados. Se hoje temos 40 empresas na concorrência, elas chegarão a 200 até o final deste ano.

Desde o último trimestre do ano passado sentimos que há uma migração para o mercado de embalagens laminadas e, em especial, para o ter­moen­co­lhí­vel”, diz ele. “Aos olhos do consumidor final parece uma medida positiva, mas o problema é em médio prazo. Há uma canibalização do mercado. Empresas de pequeno e médio porte que fabricam as sacolinhas vão deixar de existir. As grandes vão ­atuar em outros nichos”.

A própria CRP já está se rees­tru­tu­ran­do para ­atuar nesse novo cenário de concorrência ainda mais acirrada. Adquirida pelo grupo espanhol Plastigaur no final de 2011, está instalando novos equipamentos para ter ganho de produtividade, entre os quais uma máquina alemã, a primeira do País. “Quando os novos concorrentes chegarem, já estaremos um passo à frente”, desafia Carlos Hugo. “Agora é um momento crítico de tomadas de decisões nas empresas que ­atuam com as sacolinhas”.


A Antilhas, uma das gigantes do setor de embalagens em plástico e papel, com sede em São Paulo e fornecedora de 12 mil pontos de venda, diz estar se preparando — e também a seus clien­tes — desde o primeiro semestre do ano passado para enfrentar o fim das sacolas plásticas.

Embora não produza as sacolinhas usadas nos supermercados, a empresa fornece para muitos de seus clien­tes sacolas de plástico, que também estão proibidas. “Quan­do uma grande rede, como a Pernambucanas ou a Renner, fizer um movimento para essa mudança, tenho condições de absorver com facilidade”, explica Claudia Sia, gerente de mar­ke­ting e planejamento da Antilhas. “Em 2011, investimos quase US$ 10 mi­lhões em novas máquinas para impressão e produção de embalagens de papel.

Neste ano, vamos adquirir nove máquinas para fazer o acabamento”. Ela revela que o objetivo da empresa, que atual­men­te processa 3,6 milhões de toneladas/ano, é dobrar de tamanho até 2015.

O ciclo de vida
Na opi­nião de Claudia Sia, a proibição das sacolinhas de plástico “foi um caminho simplório” para tratar de questões complexas de sustentabilidade. Ela considera necessário analisar o ciclo de vida de cada produto para determinar seu impacto am­bien­tal: “O papel consome mais da natureza no início de seu ciclo de vida, e o plástico consome mais no final. A grande discussão é saber qual é o mais sustentável”.

Para ela, “a lei não olhou para essas questões. Só olhou para a proibição do plástico”. Eduar­do Diez, da CBS Elos do Brasil, concorda. “O que se vê hoje é muito barulho por uma preocupa­ção súbita com o meio am­bien­te. Há interesses econômicos envolvidos e muita gente levando vantagem com o discurso am­bien­tal”, diz ele. “O plástico é um ma­te­rial reciclável e não é o vilão. Então vamos proibir o automóvel? Se não educar, não adian­ta. Qualquer ma­te­rial tem que ter descarte correto”.


Airo Campera, da ABC Embalagens, também acha que o meio am­bien­te é um argumento usado de forma indevida. “Que­rem proibir a sacolinha plástica para os supermercados economizarem”, diz ele. “Qua­se tudo o que se compra está embalado em plástico, até mesmo o pão. E tem mais: o copo de plástico, o prato de plástico, os talheres, o azeite, o vinagre. E só a sacolinha polui?”.

Carlos Hugo, da CRP Plásticos, acha que se criou uma oportunidade para as redes de supermercados reduzirem seus custos com embalagem e ainda ter um selo verde para seu mar­ke­ting. “O Estado não está suprindo a necessidade de educação. Afinal, a sacolinha não vai sozinha para o bueiro. Há necessidade de um esforço para implantação da política de tratamento de re­sí­duos sólidos, que está a passo de tartaruga”.
Os números
Nesta disputa com indiscutíveis interesses econômicos, é difícil encontrar números de cada uma das partes que sejam equivalentes. A Apas informa que o País produz anual­men­te 21,5 bilhões de sacolas, sendo 6,6 bilhões somente no Estado de São Paulo. Já o presidente da Abief, Alfredo Schmitt, garante que a produção no País é bem menor, de 12,9 bilhões de unidades, sendo que o Estado de São Paulo consome 5,2 bilhões.


Segundo Schmitt, houve uma queda de 28% no consumo desde 2007, quando eram produzidas 18 bilhões de sacolinhas. A redução é resultado de quatro anos da campanha da Plastivida, Abief e Instituto Na­cio­nal do Plástico (INP) pela educação do consumidor com o Programa de Qua­li­da­de e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas. Também há o incentivo ao uso de sacolas plásticas certificadas, fabricadas dentro da norma ABNT 14 e identificadas com o Selo de Qua­li­da­de ­Abief-INP, que garante sua capacidade de suportar 6 quilos e de reú­so.


Dian­te da polêmica e da falta de dados conclusivos, fica a indagação: banir as sacolinhas de plástico é um caminho ou uma falta de visão sistêmica? Os que condenam as sacolinhas dizem que elas levam um século para se decompor, entopem bueiros e sufocam animais marinhos. Os defensores da sacolinha argumentam que basta entrar num supermercado e procurar em suas gôndolas algo que não use o plástico e se perguntam o motivo de elas terem sido escolhidas como vilãs. Justamente elas, tão leves, hi­giê­ni­cas e práticas.

A sacola plástica e suas versões
Há alguns anos vem crescendo o interesse de fabricantes de materiais plásticos em desenvolver alternativas “verdes” para a produção de filmes. Entretanto, apesar de atual­men­te essas possibilidades ditas como sustentáveis já estarem disponíveis, a lei nº 15.374 proí­be os fabricantes, distribuidores e estabelecimentos comerciais de inserir em sacolas plásticas a rotulagem degradáveis, assim como as ter­mi­no­lo­gias oxidegradáveis, oxibiodegradáveis, fotodegradáveis, biodegradáveis e mensagens que indiquem suposta vantagem ecológica de tais produtos. Conheça as diferenças entre os materiais hoje disponíveis.

Sacola plástica con­ven­cio­nal

As sacolas plásticas convencionais dis­tri­buí­das em supermercados são feitas de po­lie­ti­le­no de alta densidade (PEAD), um polímero sintético produzido a partir da rea­ção do etileno, gás pro­ve­nien­te do nafta — matéria-​­prima ex­traí­da do petróleo. Possui boas pro­prie­da­des mecânicas, tais como resistência à tração, rasgo e perfuração, mesmo a baixas espessuras.

Além de possuir todos os atributos técnicos ne­ces­sá­rios para a produção de sacolas, ele apresenta como vantagem o baixo custo. A sacola feita com PEAD pode ser reciclada ou reutilizada. Na maioria dos casos ela é reutilizada como saco de lixo, o que resulta na grande quantidade desse ma­te­rial depositada em aterros sa­ni­tá­rios e lixões.

Polímeros verdes
Os polímeros verdes recebem essa denominação porque são produzidos a partir de ma­té­rias-​­primas de fontes renováveis. No Brasil, a petroquímica Braskem já produz em larga escala os po­lie­ti­le­nos de baixa e de alta densidade a partir da cana-de-​­açúcar. Esses materiais pos­suem as mesmas características de seus contratipos produzidos a partir do petróleo, apresentando como principal vantagem a utilização de matéria-​­prima pro­ve­nien­te de fonte renovável, porém não são biodegradáveis.

Polímeros biodegradáveis
De acordo com a norma NBR 15448-1, polímeros biodegradáveis são aqueles que apresentam degradação por processos bio­ló­gi­cos, sob ação de microrganismos, em condições naturais adequadas, cuja finalização aconteça em até 180 dias e os re­sí­duos finais não apresentem resquício de toxicidade ou possibilidade de danos ao meio am­bien­te. As sacolas produzidas com esse polímero devem atender aos requisitos da norma NBR 15448-2: 2008.


Os polímeros biodegradáveis podem ser produzidos a partir de fontes naturais renováveis, como milho, celulose, batata e cana-de-​­açúcar, ou a partir do petróleo.

Dentre os polímeros biodegradáveis, o que tem atraí­do mais atenção é o po­liá­ci­do láctico (PLA), um po­liés­ter alifático sintetizado a partir do ácido lático obtido de fontes renováveis, como o amido de milho ou cana-de-​­açúcar. Apresenta boas pro­prie­da­des mecânicas, rigidez e transparência.

Em condições normais de uso, o PLA é muito estável e mantém suas pro­prie­da­des durante anos. As sacolas de PLA se degradam rapidamente tanto em condições ae­ró­bi­cas quanto anae­ró­bi­cas de compostagem. Por serem obtidas a partir de fontes renováveis, causam menor impacto am­bien­tal por conta de sua origem e apresentam um balanço positivo de dió­xi­do de carbono (CO²) após a compostagem.

Polímeros oxibiodegradáveis
Os polímeros oxibiodegradáveis utilizados na fabricação de sacolas são obtidos por meio do uso de um aditivo no processo de transformação do polímero con­ven­cio­nal. Ele acelera a degradação oxidativa do polímero na presença de luz e calor, reduzindo sua vida útil para 18 meses, aproximadamente.
Essa tecnologia, conhecida por d2w e co­mer­cia­li­za­da no Brasil pela Res Brasil, foi desenvolvida pela empresa britânica Symphony Plastics. O aditivo não altera as pro­prie­da­des do polímero antes de ini­ciar o processo de degradação. O polímero não é compostável, mas pode ser reciclado juntamente com outros polímeros convencionais pelo processo mecânico.

Sacolas retornáveis
As sacolas retornáveis podem ser produzidas com materiais va­ria­dos, como TNT, tecido, lona, ráfia, po­lie­ti­le­no de baixa densidade (PEBD), po­lie­ti­le­no de alta densidade (PEAD) e tecido de politereftalato de etileno (PET) reciclado. No geral são mais resistentes que as sacolas descartáveis e apresentam maior durabilidade.
As sacolas con­fec­cio­na­das com materiais poliméricos são 100% recicláveis. Os be­ne­fí­cios para o meio am­bien­te ao se utilizar estas sacolas se percebem em função do aumento do volume de compras e frequência de utilização, quando comparadas às sacolas descartáveis.


Muitos podem se questionar porque a lei sancionada pelo prefeito Gilberto Kassab e depois suspensa pelo TJ proíbe a distribuição de sacolas plásticas descartáveis, mas permite a venda de sacolas retornáveis, que muitas vezes podem ser produzidas com o mesmo ma­te­rial ou provir da mesma matéria-​­prima.

A justificativa está no ciclo de vida de cada uma: enquanto a sacola descartável será em geral reutilizada em um curto espaço de tempo, por exemplo, como saco de lixo para pos­te­rior depósito em aterro sanitário, a sacola retornável, apesar de ter o mesmo fim da opção descartável, terá um ciclo de vida maior, uma vez que será utilizada diversas vezes até seu descarte final.


Outras cidades também se mobilizam


Pelo menos 23 cidades brasileiras, em 17 estados, já contam com legislação para restringir o uso das sacolinhas plásticas. No Rio de Janeiro foi aprovada lei es­ta­dual em julho de 2010 determinando que os estabelecimentos devem promover a coleta e substituição das sacolas plásticas (os cario­cas as chamam de “sacos”) no prazo de um ano para empresas de médio e grande porte, dois anos para pequenas empresas e três anos para microem­pre­sas.

Os supermercados não retiraram as sacolas de circulação, mas ofereceram o desconto de R$ 0,03 a cada cinco itens comprados aos consumidores que não usassem os sacos. Mesmo assim, a Confederação Na­cio­nal de Comércio de Bens, Serviços e Turismo e a Federação do Comércio do Rio de Janeiro entraram na justiça contra a nova legislação.

Em Americana, in­te­rior de São Paulo, a lei municipal de junho de 2010 que proí­be sacolas plásticas em geral está sendo cumprida. O comércio utiliza embalagens de papel e sacolas reutilizáveis.

Já em Belo Horizonte, onde entrou em vigor em abril de 2011 uma lei proibindo o uso de sacolas plásticas, a restrição se limita aos supermercados. É frequente o comércio con­ti­nuar usando as sacolas de plástico. Porto Alegre aprovou uma lei em janeiro de 2011 que obriga os supermercados a trocar sacolas plásticas por biodegradáveis, mas o prazo de implantação é de um ano.


Sem qualquer lei, a cidade de Jun­diaí, a 58 quilômetros de São Paulo, implantou a proibição das sacolinhas plásticas a partir de um acordo, selado em agosto de 2010, entre Apas, prefeitura e comércio. O sucesso da ini­cia­ti­va é propagado pela Apas, que elegeu a cidade para implantar o projeto-piloto da campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”.

A entidade encomendou pesquisa ao Ibope, rea­li­za­da um ano após o início da mudança, na qual 77% dos entrevistados são favoráveis à não utilização de sacolas descartáveis nos supermercados e 73% não concordam com o retorno das sacolas descartáveis.

Giselen Cristina Pascotto Wittmann, engenheira de materiais, e Juliana Coelho de Almeida, tecnóloga gráfica. Ambas são professoras da Escola Senai Theobaldo De Nigris.

Por Letânia Menezes
http://www.revistatecnologiagrafica.com.br

 

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